Mário de Andrade às avessas: a música popular e a “inconsciência nacional”

  • Paula de Queiroz Carvalho Zimbres

Resumo

Em 1928, no Ensaio sobre a Música Brasileira, Mário de Andrade estabelece as bases para a criação de uma escola nacionalista de composição musical, ao defender a incorporação e reelaboração da música popular em registro erudito visando à criação de uma música “artística” de caráter nacional. Tal empreitada, que dominaria o cenário nacional até à década de 1940, perdeu espaço no meio erudito/acadêmico com o advento das vertentes vanguardistas e experimentais a partir da década de 1950. Entretanto, defendo neste artigo que o processo que levaria por fim ao que Mário de Andrade designava por “inconsciência nacional” (entendido, de acordo com Naves, como uma “síntese cultural” que reconciliaria os diversos componentes da cultura brasileira) teve continuidade em outro campo, o da própria música popular urbana. Foi aí que criadores como Tom Jobim, Edu Lobo, Egberto Gismonti ou Hermeto Pascoal, partindo dos códigos próprios à música popular, percorreram o caminho prescrito por Mário de Andrade, mas no sentido inverso, apropriando-se de elementos da música erudita para criar uma música popular rica, sofisticada e inconscientemente nacional. Foi isto, defendo, que Mário de Andrade não conseguiu entender: que a música popular poderia vir a se tornar “artística” sem se submeter às normas da música erudita.

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Publicado
2016-08-01
Como Citar
Carvalho Zimbres, P. de Q. (2016). Mário de Andrade às avessas: a música popular e a “inconsciência nacional”. El oído Pensante, 4(2). Recuperado de http://revistascientificas2.filo.uba.ar/index.php/oidopensante/article/view/7515