Brechas sonoras: resistências e recriações. Esgarçando sistemas político-culturais

  • Cesar Buscacio Universidade Federal de Ouro Preto
  • Virgínia Buarque Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Palavras-chave: sonoridades, brechas sonoras, subalternidade, Michel de Certeau

Resumo

Este artigo tematiza a promoção de brechas sonoras por parte de grupos subalternizados, entendendo-as como práticas de resistência e de parcial recriação das condições de existência frente a processos de exploração, espoliação e até de aniquilação com que historicamente defrontam-se tais segmentos sociais. Consideramos que as brechas sonoras esgarçam postulados de legitimação identitária e hierárquica vinculadas a sensibilidades e racionalidades, contribuindo dessa maneira para fissurar a hegemonia de sistemas político-culturais estabelecidos na modernidade. Sugerimos, como hipótese, que as brechas sonoras assim procedem mediante uma tríplice operatória: 1) seu trânsito incessante, dificultando que sejam por completo capitalizadas ou reificadas; 2) sua imbricação ao sensório e à corporeidade, no acionamento de epistemologias distintas do uso instrumental; 3) sua invocação a ordens utópicas do social, através da interligação a cosmologias, ancestralidades etc. Procedemos, em desdobramento, a uma interpretação de brechas sonoras efetivadas por povos ameríndios e africanos/afrodescendentes nas terras de Minas no decorrer dos séculos XVIII e XIX. Em termos teóricos, fundamentamos nossa reflexão principalmente no trabalho do historiador jesuíta Michel de Certeau, que abordando as sonoridades como o "outro" da escritura ocidental, indicou seu potencial como "artes do fazer" e "táticas" dos fracos.

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Publicado
2022-09-22
Como Citar
Buscacio, C., & Buarque, V. (2022). Brechas sonoras: resistências e recriações. Esgarçando sistemas político-culturais. El oído Pensante, 10(2). https://doi.org/10.34096/oidopensante.v10n2.10385