"O dinheiro é bom, mas um amigo é melhor"
Incerteza, orientação para o futuro e "a economia"
Resumo
Com base numa etnografia de longo prazo em projetos de assentamento estatais em antigas plantações de cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil, este documento questiona a evidência da ideia de "economia" como um marco privilegiado para compreender a situação de vida dos pobres, que é estruturada pela precariedade e incerteza quanto ao futuro. Explorando a polissemia do verbo português “esperar” (aguardar, esperar e contar con), analiso a pluralidade de orientações em relação ao futuro entre os antigos trabalhadores assalariados da cana-de-açúcar incluídos como beneficiários em projetos de reforma agrária e as suas estratégias para mitigar a incerteza através de várias configurações. Se a incerteza radical está fora das mãos do homem, a incerteza relativa pode ser dirimida através da mobilização das pessoas. Embora o dinheiro seja desejável, ele tem um caráter transitório e o valor dos amigos reside no seu potencial de ajuda, especialmente em caso de crise. A etnografia sugere assim que é desejável ir além de uma "antropologia econômica" que visa analisar "outras economias" e se proponha a explorar os campos de oportunidades e quadros de referência que estruturam as situações da vida e as variantes locais da oikonomia no seu significado original de “governo do agregado da família”.Downloads
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