Causatividade em Libras:
uma introdução

Alliny de M. F. Andrade

Universidade de Brasília, Brasil
allinyandrade@gmail.com

Dioney M. Gomes

Universidade de Brasília, Brasil
dioney98@unb.br

Trabajo recibido el 31 de enero de 2022 y aprobado el 11 de mayo de 2022.

Resumo

Na construção causativa, associa-se um predicado de causa a um predicado de efeito. Logo, há um causador e um causado. Algumas estratégias linguísticas já foram identificadas para introduzir, na cena discursiva, esse causador: estratégias lexicais, morfológicas e/ou sintáticas (perifrásticas). Tais construções, consideradas como um fenômeno linguístico natural, já foram observadas e documentadas em várias pesquisas sobre línguas orais. Até onde sabemos, esse assunto ainda é muito pouco explorado na literatura das línguas de sinais e não encontramos pesquisas sobre construções causativas em Língua Brasileira de Sinais (Libras) anteriores a Andrade (2015). O presente texto tem o objetivo de apresentar os principais resultados de uma pesquisa cuja finalidade foi documentar, descrever e analisar como enunciados causativos são construídos em Libras. Os dados registrados na pesquisa analisam a língua a partir do seu uso por surdos que têm a Libras como língua materna. Este estudo segue os princípios teóricos da literatura funcional-tipológica. Especialmente, seguimos os presentes em Comrie (1981, 1985, 1989), Givón (2001), Gomes (2006), Haiman (1983), Neves (1997), Payne (1997), Shibatani (1976, 2000), Shibatani e Pardeshi (2002), entre outros.

Palavras-chave: causatividade, Língua Brasileira de Sinais, Libras, construções causativas.

Causatividad en Libras: una introducción

Resumen

En la construcción causativa, un predicado de causa se asocia con un predicado de efecto. Por tanto, hay un causante y un causado. Ya se han identificado algunas estrategias lingüísticas para introducir este causante en el escenario discursivo: estrategias léxicas, morfológicas y/o sintácticas (perifrásticas). Tales construcciones, consideradas como un fenómeno lingüístico natural, ya han sido observadas y documentadas en varias investigaciones sobre lenguas orales. Hasta donde sabemos, este tema aún está muy poco explorado en la literatura de las lenguas de señas y no encontramos investigaciones sobre construcciones causativas en la Lengua de Señas Brasileña (Libras) anteriores a Andrade (2015). Este texto tiene como objetivo presentar los principales resultados de una investigación cuyo propósito fue documentar, describir y analizar cómo se construyen los enunciados causativos en Libras. Los datos registrados en la investigación analizan la lengua a partir de su uso por personas sordas que tienen Libras como lengua materna. Este estudio sigue los principios teóricos de la literatura funcional-tipológica. En especial, seguimos a los presentes en Comrie (1981, 1985, 1989), Givón (2001), Gomes (2006), Haiman (1983), Neves (1997), Payne (1997), Shibatani (1976, 2000), Shibatani y Pardeshi (2002), entre otros.

Palabras clave: causatividad, Lengua de Señas Brasileña, Libras, construcciones causativas.

Causativity in Libras: an introduction

Abstract

In the causative construction, a cause predicate is associated with an effect predicate. Therefore, there is a causerand a causee. Some linguistic strategies have already been identified to introduce this causer into the discursive scene: lexical, morphological and/or syntactic (periphrastic) strategies. Such constructions, considered as a natural linguistic phenomenon, have already been observed and documented in several researches on oral languages. As far as we know, this subject is still very little explored in the literature of sign languages and we did not find research on causative constructions in Brazilian Sign Language (Libras) prior to Andrade (2015). This text aims to present the main results of a research whose purpose was to document, describe and analyze how causative utterances are constructed in Libras. The data recorded that research analyzes the language from its use by deaf people who have Libras as their mother language. This study follows the theoretical principles of the functional-typological literature. Especially, we follow those presented in Comrie (1981, 1985, 1989), Givón (2001), Gomes (2006), Haiman (1983), Neves (1997), Payne (1997), Shibatani (1976, 2000), Shibatani and Pardeshi (2002), among others.

Keywords: causativity, Brazilian Sign Language, Libras, causative construction.

1. Introdução

Na construção causativa, associa-se um predicado de causa a um predicado de efeito. Logo, há um causador e um causado. Algumas estratégias linguísticas já foram identificadas para introduzir, na cena discursiva, esse causador: estratégias lexicais, morfológicas e/ou sintáticas (perifrásticas). Tais construções, consideradas como um fenômeno linguístico natural, já foram observadas e documentadas em várias pesquisas sobre línguas orais. Até onde sabemos, esse assunto ainda é muito pouco explorado na literatura das línguas de sinais e não encontramos pesquisas sobre construções causativas em Libras anteriores a Andrade (2015).

O presente texto tem o objetivo de apresentar os principais resultados de uma pesquisa cuja finalidade foi documentar, descrever e analisar como enunciados causativos são construídos em Libras. Os dados registrados na pesquisa analisam a língua a partir do seu uso por surdos que têm a Libras como língua materna1.

Além desta introdução, o texto está assim dividido: na seção 2, apresentamos os principais conceitos teóricos em torno da causatividade; na seção 3, tratamos do percurso metodológico e dos colaboradores; na seção 4, analisamos os dados gerados. Por fim, vêm as considerações finais (seção 5) e as referências bibliográficas (seção 6).

2. Recorte teórico

Este estudo segue os princípios teóricos da literatura funcional-tipológica. Especialmente, seguimos os presentes em Comrie (1981, 1985, 1989), Givón (2001), Gomes (2006), Haiman (1983), Neves (1997), Payne (1997), Shibatani (1976, 2000), Shibatani e Pardeshi (2002), entre outros.

As construções causativas são descritas na literatura como construções em quese associa um predicado de causa, que contém um causador (causer), a um predicado de efeito, que contém um causado (causee) (cf. Shibatani 2000; Shibatani e Pardeshi 2002). Para Payne (1997, 176; tradução nossa): “[...] uma causativa é uma expressão linguística que contém em sua estrutura semântica/lógica um predicado de causa, em que um de seus argumentos é um predicado expressando um efeito”. E, na sequência, assim simboliza uma construção causativa: “CAUSAR (x, P) = x causa P”.

Causativas são consideradas um fenômeno linguístico natural e já foram amplamente observadas e documentadas em várias pesquisas de línguas orais. Sobre o assunto, muito pouco se encontra na literatura a respeito de línguas de sinais. A importância desse tema é destacada em Givón (2001, 165; tradução nossa):

As construções causativas têm desempenhado um papel importante na atual história da linguística, não só do ponto de vista tipológico, mas também por representar uma importante área de convergência entre linguística e algumas disciplinas adjacentes tais como filosofia (a natureza da causalidade) e antropologia cognitiva (percepção humana e categorização da causalidade).

O princípio básico da causatividade é relacionar um causador a um causado. Com base nisso, Andrade (2015, 56) registra o pensamento de Neves (2000) a esse respeito:

[...] estruturas linguísticas formadas a partir de verbos causativos ou situações causativas cujos verbos são transitivos em que o sujeito (agente ou causa) age sobre outro indivíduo (ou coisa), forçando-o a realizar algo ou a se tornar algo, de modo a estabelecer essa relação de causa-efeito.

Desde um ponto de vista tipológico, já se identificaram três tipos de construções causativas: lexicais, morfológicas e sintáticas (perifrásticas ou analíticas) (cf. Comrie (1989), Payne (1997), Shibatani e Pardeshi (2002), entre outros).

Na causatividade lexical, há o uso de verbos que condensam o predicado de causa e o predicado de efeito em um só predicado sintaticamente estruturado. É o caso do verbo derrubar em contrapartida ao verbo cair:

(1) Meu filho caiu na escola.

(2) O coleguinha derrubou meu filho na escola.

Para Givón (2001), a relação entre o predicado intransitivo (1) e o predicado transitivo (2) está lexicalizada. O segundo membro de pares como morrer X, matar e nascer X, parir em Português, ou see X, show, die X kill, em inglês são exemplos de construções causativas lexicais, em que a noção de causa está embutida no próprio significado do verbo (Payne 1997). Esse seria um dos três subtipos de causativas lexicais, conforme registra Payne (1997, 177; tradução e grifos nossos), a saber:

a) Nenhuma mudança no verbo

Não causativo: O vaso quebrou.

Causativo: Maria quebrou o vaso (isto é, Maria causou a quebra do vaso).

b) Mudança idiossincrática no verbo

Não causativo: The tree fell. (verbo = “to fall”)2

Causativo: Bunyan felled the tree. (verbo = “to fell”)

c) Verbos diferentes

Não causativo: Lucrécia morreu.

Causativo: Glória matou Lucrécia.

O segundo tipo de construção causativa é a chamada causativa morfológica. Segundo Payne (1997, 175; tradução nossa), “causativas morfológicas envolvem uma mudança produtiva na forma do verbo”. Comrie (1981) destaca que um verbo não causativo (que só apresenta um dado efeito) pode ser acrescido de um afixo que promove uma mudança em sua predicação: ela passa a prever um argumento causador, implicando que o predicado passa a ser de causa-efeito. A seguir, um exemplo disso em Mundurukú (adaptado de Gomes 2006):

(3) bekicat o’at

bekicat o’=’at

Criança 3Sujeito.ativo=cair

‘A criança caiu.’

(4) akurice bekicat o’g̃uy‘at

akurice bekicat o’=y-muy-‘at

cachorro criança 3Sujeito.ativo=3Objeto-CAUSATIVO-cair

‘O cachorro derrubou a criança.’ ou ‘O cachorro fez a criança cair.’

O exemplo (3) traz o verbo intransitivo ‘at ‘cair’, que tem como argumento o sujeito bekicat ‘criança’. Já no exemplo (4) ocorre o acréscimo do prefixo {muy-} responsável por promover a leitura causativa no predicado. Dessa forma, um agente causador é introduzido na posição de sujeito (akurice), e o paciente causado fica na posição de objeto (bekicat). A causatividade morfológica em Mundurukú ocorre tanto com predicados intransitivos quanto transitivos sistematicamente (cf. Gomes 2006).

Por fim, outro tipo de causatividade envolve dois predicados sintaticamente separados. Essa é a causatividade sintática, também chamada de perifrástica ou analítica (Comrie 1985). Andrade (2015, 56) apresenta o seguinte exemplo: “(28) O professor fez o aluno estudar novos sinais”. E sobre ele, se faz a seguinte análise:

Na sentença (28), temos o sujeito da primeira oração [...] o professor (causa) agindo sobre o aluno, que por sua vez comete a ação de estudar novos sinais (efeito). [...] Neves (2000) considera que as sentenças causativas são geralmente compostas por duas orações: uma principal e a outra subordinada. Em (28), temos uma oração principal O professor fez e uma oração subordinada o aluno estudar novos sinais. Verbos como mandar, fazer, provocar e causar são exemplos de causativos em português.

A título de ilustração, vejamos mais dois exemplos:

(5) Alemão:

Hans liess seinen Sohn den Brief Abtippen.

‘Hans fez seu filho digitar a carta.’

(6) Francês:

J’ai fait préparer la mayonnaise à Jean.

‘Eu fiz Jean preparar a maionese.’

Para Shibatani e Pardeshi (2002), em (5) e (6) existe um agente (Hans e Je, respectivamente), que age sobre outro agente (Sohn e Jean, respectivamente), induzindo-o ou obrigando-o a agir. Uma diferença importante entre o Francês e o Português é que, em Francês, o causado recebe caso dativo e está incluído na oração subordinada, enquanto em Português, o causado é objeto direto do verbo de causa e sujeito do verbo de efeito.

Essa classificação dos três tipos aqui apresentada é bastante complexa e não pretendemos esgotá-la, mas tão somente fazer uma introdução para situar o leitor durante nossas análises mais à frente. Particularmente, incentivamos a leitura de Shibatani e Pardeshi (2002, 85), que propõe um continuum3.

Antes de passarmos à próxima seção, apresentaremos brevemente o que a literatura tem chamado de causação direta e causação indireta, uma vez que será também relevante para a análise de nossos dados.

Shibatani (2000) identificou que existe causação mais direta ou menos direta:

Na causação direta, o sujeito do evento de causa age diretamente sobre o sujeito do evento causado: Dilma demitiu o ministro da educação. Diferentemente, na causação indireta, não há essa ação diretamente sobre o causado: Dilma fez o ministro da educação se demitir (Andrade 2015, 60).

Dessa forma, em uma construção causativa, podemos identificar um agente que age diretamente (e até fisicamente) sobre um paciente ou que é responsável por uma ação ou um conjunto de ações que leva a um determinado desfecho. Em Dilma demitiu o ministro da educação, a ação é diretamente produzida e controlada inteiramente por ela. Já em Dilma fez o ministro da educação se demitir, ele é agente da demissão, mas há um agente maior, que age sobre ele, no caso Dilma. O evento final, o efeito final, é o mesmo: o ministro da educação está demitido. Mas, no primeiro enunciado, Dilma é autora direta da demissão, enquanto no segundo é autora indireta.

Nesse sentido, cabe ainda agregar ao debate a noção de iconicidade aí implicada:

Para Givón (2001), essa distância estrutural, em que a menor sentença será usada em detrimento de uma sentença maior, tende a expressar uma causação mais direta. Assim, o número de sílabas ou segmentos envolvidos na operação causativa é iconicamente relacionado à distância entre causa e efeito (Andrade 2015, 61-62)4.

Dessa forma, vem sendo identificado nos estudos linguísticos que pode haver uma correlação entre forma e função em construções causativas (além de outros tipos), correlação que implicaria que quanto menor for o tipo de causativa mais direta seria a causação. Assim, a causativa lexical seria mais usada para expressar um grau maior de causação direta, enquanto a causativa sintática expressaria uma causação indireta com menor grau de envolvimento direto do agente causador. A causativa morfológica estaria no meio do caminho. A seguir, descrevemos como se desenvolveu a pesquisa que embasa este texto.

3. Percurso metodológico e colaboradores

A pesquisa contou exclusivamente com a participação de colaboradores surdos (homens e mulheres), que se comunicam fluentemente e correntemente em Libras há mais de dez anos. A idade variou entre 30 e 40 anos. Eram três mestres, três especialistas e dois graduados apenas, em um total de oito surdos.

Todos os colaboradores surdos, no momento da pesquisa, se autodeclararam bilíngues em Português e em Libras e bem fluentes nesta última. Dos oito participantes surdos apresentados na pesquisa, sete foram alunos do Centro Educacional de Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (CEAL/DF), uma instituição de metodologia oralista, que não permitia que os estudantes se comunicassem por meio da língua de sinais nas dependências da escola.

Ao aceitarem o convite, todos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)5. Também aplicamos um questionário sociolinguístico para traçar um perfil dos participantes, especialmente para sabermos como e quando se deu seu aprendizado de Libras (cf. Andrade 2015, 107).

Os dados foram gerados a partir de roteiros preparados por nós. Esses roteiros continham: i) apenas imagens, ii) imagens e texto escrito, e iii) só texto escrito. Foram ao todo quatro roteiros (dois do terceiro tipo). O primeiro envolvia três imagens que mostravam desde apenas um efeito até a relação causa-efeito. O segundo continha imagens e um texto escrito, que narrava o que se passava nas imagens. O terceiro e quarto roteiros continham apenas frases em português sem causatividade e com causatividade expressa. O detalhamento desses roteiros será feito na seção seguinte, de modo a deixá-los mais próximos dos dados gerados e da respectiva análise.

Convém, contudo, registrar aqui algumas dificuldades nessa metodologia, a fim de evidenciar uma certa limitação imposta pela elicitação. As ilustrações usadas, por exemplo, geraram muitas dúvidas, e os participantes não conseguiam, muitas vezes, distinguir entre uma imagem e outra. Ou ainda, eram percebidos detalhes irrelevantes para os enunciados pretendidos. O acréscimo do texto escrito no segundo roteiro diminuiu bastante esse tipo de interferência. E, por fim, os roteiros 3 e 4 traziam só texto escrito, que era bem compreendido por todos. Dessa interação com os colaboradores,

É importante mencionar que, durante todo esse processo de escolha dos colaboradores, conversas de esclarecimento sobre a pesquisa e apresentação de elicitações, sejam elas ilustradas ou escritas, tínhamos a oportunidade de, após a filmagem, conversar sobre alguns dados produzidos e, inclusive, sobre outras questões pertinentes à pesquisa (Andrade 2015, 69).

Os participantes foram filmados. As filmagens foram feitas por duas filmadores com consentimento dos colaboradores, como já dissemos. Durante a gravação, que era sempre com um colaborador por vez, não havia diálogo entre os participantes da pesquisa e a pesquisadora responsável pela coleta dos dados. Ressalva feita aos momentos em que havia alguma incompreensão sobre as imagens. Não registramos insatisfação ou incômodo por parte de nossos colaboradores ao longo do processo. Ao contrário, demonstravam satisfação e contentamento em poder contribuir para a documentação, registro e análise de sua língua materna, a Libras.

Todo o material gerado foi analisado com o suporte do software ELAN (EUDICO, Anotador Linguístico). As imagens eram editadas no Coreldraw e inseridas no Word.

Sobre as vantagens do ELAN, afirmam McCleary, Viotti e Leite (2010, 276):

i) ser especificamente desenvolvido para descrição e análise linguísticas multimodais; ii) estar sendo amplamente utilizado por pesquisadores de várias línguas, em particular de línguas de sinais; iii) estar sendo constantemente atualizado por meio de novas versões que corrigem problemas e introduzem novos recursos; iv) ser disponibilizado gratuitamente; v) ser compatível com PC; vi) possibilitar o uso de arquivos de vídeo e áudio, o que é importante para transcrição e análise de interação bimodal surdo-ouvinte, bem como para os estudos da gestualidade.

O programa nos permitiu fazer uma análise minuciosa de cada sinal. O recurso de diminuição da velocidade do vídeo foi muito útil para captação de detalhes como movimentos e expressões não manuais, sobretudo.

A seguir, apresentamos um detalhamento maior dos roteiros aqui citados, os dados gerados e nossa análise introdutória sobre a causatividade em Libras.

4. Análise da causatividade em Libras

Como informado na seção anterior, a geração de dados se baseou em quatro roteiros. O primeiro roteiro ilustrado6 apresentou uma sequência de três imagens, reproduzidas a seguir:

Roteiro 1 (Andrade 2015, 74).

A expectativa é que fossem produzidas sentenças em Libras em que pudéssemos encontrar, aproximadamente, os seguintes dados para cada imagem:

a) Imagem 1: O copo quebrou.

b) Imagem 2: O menino fez o copo cair por querer (implicando volição).

c) Imagem 3: O menino derrubou o copo sem querer (não implicando volição).

O primeiro colaborador, após observar a primeira imagem (o copo quebrou), sinalizou:

“Havia na borda da mesa um copo. Daí ele caiu e quebrou.”

Exemplo 1. Roteiro 1, imagem 1 (Andrade 2015, 75).

O colaborador construiu a cena, informando primeiramente os referentes por meio do que pode ser, inicialmente, classificado como um tipo de predicação não verbal: “(havia) uma mesa”, “(havia) um copo na borda da mesa”. Só depois produziu, no terceiro quadrante do exemplo 1, o enunciado esperado: o copo caiu. Nesse momento, utilizou-se da expressão não manual (com o movimento da boca) e da mão espalmada para dizer também que o copo quebrou.

Em relação à imagem 2, que representa um menino fazendo um copo cair de propósito, o colaborador produziu o seguinte:

“Um menino empurrou a mesa maldosamente; na boda dela havia um copo; o balanço da mesa fez o copo cair e quebrar.”

Exemplo 2. Roteiro 1, imagem 2 (Andrade 2015, 75-76).

Um causador aparece na cena apresentada na imagem 2. Então, o colaborador optou por iniciar a narrativa falando dele, introduzindo assim o agente (o menino) no início do enunciado. O copo, que é o paciente, e o que aconteceu com ele entram em cena somente depois da descrição do cenário (apresentação da mesa, da característica psicológica do menino e da localização do próprio copo). A maneira que o colaborador encontrou para expressar que o menino agiu deliberadamente foi introduzir o item lexical traduzível em português por maldade ou maldosamente para qualificar o menino ou sua ação7. Isso fez do menino um agente prototípico, aquele que controla a ação, a inicia de propósito, sendo um típico causador, promovendo a mudança no estado físico do objeto causado (o copo).

Em relação à terceira e última cena, correspondente a algo como O menino derrubou o copo sem querer, o colaborador sinalizou:

“O menino, sem perceber, enquanto caminhava, esbarrou o cotovelo no copo que estava na borda da mesa. O copo caiu e quebrou, e ele ficou muito desconcertado.”

Exemplo 3. Roteiro 1, imagem 3 (Andrade 2015, 76).

No exemplo 3, também vemos um incremento na quantidade de participantes na cena discursiva em relação à imagem 1 (o copo caiu), a qual só trazia o copo. Houve também em 3 o acréscimo de um causador (o menino). Mas o nosso colaborador percebeu que esse causador não tinha a intenção de derrubar o copo. Por isso, o colaborador apresentou o agente (o menino), explicou que ele não estava olhando para onde ia enquanto caminhava, daí esbarrou o cotovelo em uma mesa, onde havia um copo, fazendo-o cair e quebrar.

Tanto no exemplo 2 quanto no exemplo 3, não houve acréscimo morfológico no verbo “cair”, apresentado no exemplo 1, para produzir as construções causativas. Logo, não se trata de causatividade morfológica. O item lexical “cair” também não foi substituído por outro item lexical similar a “derrubar” para expressar a causação, como ocorre no português. Por isso, também não se trata de causatividade lexical. O que se observa nos exemplos 2 e 3 é que o predicado de causa e o predicado de efeito têm cada um sua própria sintaxe, o que nos coloca diante de uma causatividade sintática (perifrástica ou analítica).

Interessa em relação a 2 e 3 identificar as diferenças entre elas. Segundo a literatura tipológico-funcional sobre causatividade (cf. Givón 2001, Shibatani 2000, Payne 1997 e outros), se uma língua tem mais de um tipo formal de causativa, o menor será usado para expressar causação direta. No exemplo 2, há causação mais intencional do agente, identificada no sinal MALDOSO relativo ao agente causador. Esse agente age de modo a provocar a queda do copo, balançando a mesa. Sugere-se aí a aplicação do princípio da iconicidade, em que quanto maior é a distância física, maior será a quantidade de material linguístico a ser empregado no enunciado. Essa pode ter sido a motivação por trás da maneira como o colaborador contou os fatos em 2 e 3 em Libras. Vejamos como outro colaborador sinalizou esses mesmos fatos.

A colaboradora seguinte, após olhar os desenhos do roteiro 1, nos questionou como o copo havia caído. Perguntou se foi uma pessoa que havia mexido na mesa, se foi o vento. Para ela, o copo não poderia ter caído sozinho8. Mesmo assim, ela aceitou expressar em Libras o que estava vendo na imagem 1:

“O copo caiu.”

Exemplo 4. Roteiro 1, imagem 1 (Andrade 2015, 77).

Claramente, não se encontram no exemplo 4 as informações contextuais presentes no exemplo 1 (a mesa, a localização do copo na mesa e o quebrar do copo). Mas o resultado foi suficiente e se produziu uma sentença gramatical em Libras com um sinal referente a copo e outro referente a cair, o que nos leva a pensar que se trata de um predicado intransitivo com um verbo e um argumento. O copo é inanimado e sofre a ação. Talvez isso tenha levado a colaboradora a estranhar a imagem 1, que não trazia a causa explícita da queda do copo. Em línguas como o português, não há restrição para se topicalizar um referente desse tipo, seja mediante a voz passiva (“o copo foi quebrado”), seja mediante uma construção como “o copo (se) quebrou”. Se esse tipo de restrição realmente ocorre em Libras natural (fora do contexto de elicitação) é algo a ser ainda pesquisado.

Além disso, em Libras é muito comum o posicionamento de todos os participantes e referentes no espaço para descrição de uma cena, para a construção dos enunciados, como tentou fazer o colaborador 1.

Voltemos à colaboradora 2 e à sequência de imagens do roteiro 1. Ao observar a segunda imagem, cuja tradução aproximada em português seria O menino fez o copo cair por querer, a colaboradora sinalizou:

“O menino, maldosamaente, balançou a mesa, e o copo caiiu e quebrou.”

Exemplo 5. Roteiro 1, imagem 2 (Andrade 2015, 78).

De forma muito semelhante ao colaborador 1, a colaboradora 2 introduz na cena o causador/a causa (O menino que, maldosamente, balança a mesa), seguido do causado/efeito (o copo caído). Como no exemplo 2, o sinal de MALDADE foi usado. Esse sinal objetiva informar que o menino agiu por vontade própria. Há intenção de fazer algo ruim, no caso derrubar o copo, e a Libras utiliza-se desse sinal para explicitar um dos traços semânticos prototípicos do agente menino, a volição, o qual se soma a traços como animacidade, controle da ação e consequente mudança de estado provocada em um paciente. Logo, o menino é o responsável por iniciar a ação por vontade própria e promover a mudança física no paciente, o copo.

Na terceira e última imagem do roteiro ilustrado 1, em que teríamos como tradução aproximada O menino derrubou o copo sem querer, nossa colaboradora sinalizou:

“O menino derrubou o copo sem querer.”

Exemplo 6. Roteiro 1, imagem 3 (Andrade 2015, 78).

A sentença presente em 6 traz o agente/causador, o ato de esbarrar o cotovelo e o efeito provocado pelo esbarrão do cotovelo do menino (na mesa): o copo caiu. Ao compararmos essa sentença com a sentença 5 em que há volição, é possível perceber que houve necessidade de explicar que a ação do menino não foi deliberada.

Novamente, não encontramos nos exemplos em que se introduziu o predicado de causa (5 e 6) uma mudança morfológica no verbo base da construção de efeito (exemplo 4) (causatividade morfológica) ou a substituição desse verbo por um item lexical capaz de expressar os dois predicados, como no segundo elemento do par cair/derrubar do português (causatividade lexical). Novamente, o que se encontra sinalizado em Libras é uma construção sintática, contendo a causa (o menino esbarrou o cotovelo (na mesa)), que é seguida de uma construção sintática contendo o efeito ((por isso) o copo caiu). Logo, uma causatividade de tipo sintática (perifrástica ou analítica).

A causação deliberada presente em 5 fica evidente no uso do sinal MALDADE e no tipo de predicado agregado à cena: (MENINO) BALANÇAR (MESA), em que o primeiro referente age de forma deliberada. Já em 6, a opção foi por agregar uma predicação sem volição: (MENINO) ESBARRAR O COTOVELO (NA MESA). Nesse caso, o tipo de material linguístico agregado ao enunciado causativo propriamente dito permitiu identificar maior ou menor envolvimento deliberado do agente causador.

Comparando os enunciados 5 e 6, podemos perceber que a causação indireta em 5 gerou mais material linguístico (MALDADE + MENINO BALANÇAR A MESA = FAZER O COPO CAIR), o que estaria em conformidade com o princípio icônico relativo à causatividade: quanto maior a distância física entre um predicado de causa e um predicado de efeito, maior será a quantidade de material linguístico usado.

Diante do fato de termos encontrado respostas praticamente iguais nos demais colaboradores e principalmente por terem surgido dúvidas similares sobre a clareza das imagens do roteiro 1, decidimos criar um segundo roteiro, composto por um texto escrito introdutório e também por imagens:

O menino não gosta de maçã. O menino está doente e precisa de uma alimentação saudável. A mãe do menino manda que ele coma a maçã. Ele não quer comer a maçã. A mãe orienta o menino para que ele coma a maçã.

Roteiro 2 (Andrade 2015, 79-80).

A cada colaborador, individualmente, foram apresentados o texto e as imagens. Cada um, então, reproduziu em Libras o que entendeu. A seguir, o que nos disse o primeiro colaborador a respeito da imagem 1 do roteiro 2:

“O menino comeu a maçã contrariado.”

Exemplo 7. Roteiro 2, imagem 1 (Andrade 2015, 80).

Em 7, o colaborador sinaliza MENINO, seguido da ação COMER-MAÇÃ atribuível a ele. No momento seguinte (terceiro quadrante), destaca a contrariedade do menino por meio de sua própria expressão facial e, na continuidade da sentença, repete a construção COMER-MAÇÃ com a expressão de contrariedade novamente incluída no enunciado.

A seguir, sobre a segunda cena, o colaborador produziu o exemplo 8:

“A mãe mandou o menino comer a maçã, e ele comeu contrariado.”

Exemplo 8. Roteiro 2, imagem 2 (Andrade 2015, 81).

A introdução de um agente causador externo, no caso a mãe, ocorre logo no início do enunciado, em que foi sinalizado o seguinte: a mãe mandou (ele) comer a maçã mandou (ele). O enunciado produzido em 7 é repetido como efeito (consequência) (cf. quadrantes 5, 6 e 7 do exemplo 8): o menino comeu a maçã contrariado. A soma dessas construções é uma construção causativa de tipo sintática (perifrástica ou analítica): A mãe mandou/fez o menino comer a maçã. O agente indireto, desencadeador e controlador do processo, aparece duas vezes: primeiramente, explicitado no sinal MÃE e, depois, implícito quando o verbo MANDAR é repetido na primeira oração da sentença A MÃE mandou(ELE) comer maçã,(A MÃE) mandou o menino.... Isso pode ser confirmado nas expressões não manuais (rosto, posição do tronco) e no próprio item lexical MANDAR, os quais retomam o primeiro referente apresentado: MÃE.

Na sequência da pesquisa, o colaborador observou a imagem 3 e perguntou qual era a diferença entre ela e a imagem 2. Não explicamos e pedimos que ele sinalizasse o que tivesse entendido. Em Andrade (2015, 82), registramos a reação do colaborador:

O colaborador reclamou do desenho e disse não perceber diferença. Então conversamos sobre a autoridade da mãe e o papel de orientar os filhos para uma alimentação saudável. Ele perguntou se o menino do desenho estava doente e criamos uma situação hipotética que, além de estar doente, o menino precisava comer a fruta mesmo sem vontade.

Depois dessa conversa, o colaborador nos forneceu o seguinte enunciado:

“A mãe mandou o menino comer maçã e ficou observando para vê-lo comer. O menino comeu a maçã contrariado.”

Exemplo 9. Roteiro 2, imagem 3 (Andrade 2015, 82).

Em 9, como em 8, um predicado de causa (a mãe mandou) é associado a um predicado de efeito (o menino comer a maçã). Mas surgiu um novo elemento: (a mãe) FICAR DE OLHO. Afora isso, a semelhança entre esses exemplos não nos permite dizer se há efetivamente diferenças entre eles no plano semântico, como pretendíamos averiguar. De todo modo, constatamos a força assumida pelo agente indireto (MÃE) presente no predicado de causa frente ao agente direto (MENINO) do predicado de efeito. Ao primeiro agente se costuma chamar “superagente” dado o poder que exerce sobre o outro agente. Nesse caso, o superagente é mãe: i) A mãe manda comer; ii) (a mãe) manda e; (a mãe) fica de olho. A mãe é o superagente controlador das três ações, enquanto o referente menino, até o momento, é apresentado como alvo dos verbos anteriores (exceto do verbo “comer”, em que já pode ser considerado agente). Mas é mesmo só no final que o menino torna-se explicitamente sujeito agente: O menino comeu a maçã contrariado. Mesmo aí, esse agente não é prototípico, uma vez que pratica a ação contrariado, portanto sem volição. Novamente, ocorre causatividade sintática.

Após aplicar o roteiro 2 com outro colaborador surdo e surgirem novamente dúvidas de interpretação dos desenhos, consideramos pertinente aplicar roteiros exclusivamente escritos (sem imagens), para contrastar com os dados gerados a partir dos roteiros 1 e 2. Assim, o roteiro 3 a seguir foi criado e apresentado aos nossos colaboradores:

1) O cachorro morreu.

2) O menino matou o cachorro.

3) O menino fez o cachorro morrer.

Roteiro 3 (Andrade 2015, 85).

Nosso primeiro colaborador leu o enunciado O cachorro morreu e assim o traduziu para Libras:

“O cachorro morreu”

Exemplo 10. Roteiro 3, enunciado 1 (Andrade 2015, 85).

Ocorre, em 10, o participante CACHORRO seguido do verbo MORRER.

Já o segundo enunciado —O menino matou o cachorro— foi sinalizado da seguinte forma:

“O menino matou o cachorro.”

Exemplo 11. Roteiro 3, enunciado 2 (Andrade 2015, 85).

O causador foi introduzido na cena logo na primeira posição da sentença, seguido pelo verbo MATAR. O causado aparece na sequência, produzindo a ordem SVO. Logo, para expressar a causa e o efeito juntos, a estratégia usada foi substituir o verbo MORRER (exemplo 10) pelo verbo MATAR (exemplo 11), a chamada causatividade lexical, de subtipo em que ocorre substituição lexical (cf. seção 2 deste texto).

Em relação ao terceiro enunciado —O menino fez o cachorro morrer—, o colaborador produziu o seguinte em Libras:

“O menino, por culpa dele, o cachorro morreu ou O menino fez o cachorro morrer de propósito.”

Exemplo 12. Roteiro 3, enunciado 3 (Andrade 2015, 86).

Para expressar a ideia de responsabilidade do menino pela morte do cachorro, o colaborador apresenta o menino por meio do sinal MENINO e o coloca no espaço à sua frente por meio do apontamento, o que pode ser traduzível por ELE. E, principalmente, associa a ele a noção de culpa, usando o sinal CULPA somado ao ELE (apontamento) novamente (quadrante 4). Daí constrói o enunciado em que se apresenta o efeito: O CACHORRO MORREU (nesse caso, esse novo referente é colocado no lado contrário ao do menino, o que se percebe pelo movimento do tronco no quadrante 5. Desse modo, o causador, que agiu deliberadamente, aparece na primeira construção, e o causado e o efeito da causação aparecem no segundo enunciado. A relação entre os enunciados é de causa-efeito por conta da presença do sinal CULPA principalmente e devido à ordem dos constituintes, da qual se depreende que foi o menino que fez o cachorro morrer e não contrário. Essa repetição do referente MENINO no sinal ELE e dentro do constituinte culpa DELE pretende deixar claro de onde veio a responsabilidade pela morte do cachorro. O sinal de CULPA é fundamental na atribuição do tipo de responsabilidade envolvida. Claramente, o enunciado 12 traz mais material linguístico que o enunciado 11, o que sugere que aquele traz informações mais complexas que esse (iconicidade). Não se pode afirmar com certeza, mas suspeitamos que, no exemplo 12, a ação foi menos direta e, por isso, tenha sido usado mais material linguístico.

Nossa outra colaboradora produziu a seguinte sentença para “O cachorro morreu”:

“O cachorro morreu.”

Exemplo 13. Roteiro 3, enunciado 1 (Andrade 2015, 87).

Assim como o colaborador anterior, essa colaboradora usou os mesmos sinais, na mesma ordem: CACHORRO MORRER.

Em relação à sentença O menino matou o cachorro, se observou também a mesma tradução do primeiro colaborador, inclusive na mesma ordem SVO:

“O menino matou o cachorro.”

Exemplo 14. Roteiro 3, enunciado 2 (Andrade 2015, 87).

Aqui também a colaboradora substituiu o verbo MORRER (monovalente) pelo verbo MATAR (bivalente), para expressar a ideia de causação, o que é classificado na literatura linguística como causatividade lexical.

Já em relação à terceira sentença —O menino fez o cachorro morrer—, nossa colaboradora assim a sinalizou:

“O menino com crueldade matou o cachorro e ele (o cachorro) morreu.”

Exemplo 15. Roteiro 3, enunciado 3 (Andrade 2015, 88).

No exemplo 15, o agente-causador (MENINO) é introduzido no início da construção e é imediatamente seguido pelo sinal CRUELDADE, o qual tem o objetivo de informar que sua ação foi deliberada. Essa ação (MATAR) vem na sequência e seguida pelo paciente (CACHORRO) e pelo verbo MORRER. Há duas construções aí: i) o menino, com crueldade, matou o cachorro e ii) o cachorro morreu. O sinal CACHORRO pode ser interpretado como complemento objeto do verbo MATAR e sujeito do verbo MORRER, algo como: o menino matou o cachorro e morreu. Nesse caso, o controlador do segundo verbo continua sendo o cachorro, o objeto direto, diferentemente do que ocorre em português, cuja sintaxe nominativo-acusativa coloca o sujeito como controlador de correferências assim. Isso é um ótimo tema para estudos futuros sobre construções complexas em Libras e sobre o tipo de alinhamento sintático (se nominativo-acusativo ou ergativo-absolutivo).

Em comparação ao exemplo 14, o exemplo 15 se estrutura de modo a explicitar a volição do agente frente à ação, mediante a introdução do sinal CRUELDADE após a expressão do agente. Há claramente maior complexidade estrutural em 15 que em 14, uma vez que 15, como dissemos, é composto de duas orações: a que expressa causa e a que expressa o efeito. Novamente, estamos diante de uma causatividade sintática (perifrástica), em que a complexidade conceitual presente em 15 levou a uma complexidade estrutural maior frente a 14.

O terceiro colaborador produziu enunciados idênticos aos dos outros dois em relação às frases O cachorro morreu e O menino matou o cachorro. Por isso, não vamos repeti-los aqui (cf. Andrade 2015, 88-89). Já com relação ao terceiro enunciado do roteiro 3 —O menino fez o cachorro morrer—, esse colaborador sinalizou o seguinte:

“O menino agiu perversamente com o cachorro, e ele [o cachorro] morreu.”

Exemplo 16. Roteiro 3, enunciado 3 (Andrade 2015, 89).

O exemplo 16 introduz o causador no início da sentença (MENINO) para, logo em seguida, informar que ele agiu com perversidade, levando o cachorro a morrer. Não há um sinal explícito que conecta um predicado ao outro, mas se infere uma relação de causa e efeito entre eles, com a intermediação do sinal AGIR-PERVERSIDADE (segundo quadrante), que atribui ao menino a responsabilidade pelo que se enuncia na sequência: a morte do cachorro.

Mais uma vez, o enunciador evidencia a volição do causador em uma construção mais complexa como nos dados produzidos pelos dois colaboradores anteriormente examinados. Maior volição, mais culpa e maior responsabilidade geraram construções mais complexas de um ponto de vista estrutural.

A fim de verificar como seria a expressão de causatividade a partir de um agente não humano e inanimado agindo sobre um paciente humano, elaboramos mais o roteiro 4 a seguir apresentado:

1) A menina entristeceu.

2) A chuva entristeceu a menina.

3) A chuva fez a menina ficar triste.

Roteiro 4 (Andrade 2015, 67 e 90).

A primeira colaboradora, para o enunciado 1 desse roteiro, assim se expressou:

“A menina entristeceu.”

Exemplo 17. Roteiro 4, enunciado 1 (Andrade 2015, 90).

Em relação ao segundo enunciado do roteiro 4 —A chuva entristeceu a menina—, se produziu a seguinte frase em Libras:

“A chuva, a menina entristeceu.”

Exemplo 18. Roteiro 4, enunciado 2 (Andrade 2015, 91).

Esse exemplo 18 começa explicitando o causador —CHUVA—, sinal colocado no início da sentença, seguido pelo sinal MENINA e ENTRISTECER. Nesse caso, se pode interpretar: i) (Por causa da) chuva, a menina entristeceu ou ii) A chuva entristeceu a menina. Se optarmos pela interpretação ii), vamos concluir que o verbo ENTRISTECER pode ser tanto intransitivo (exemplo 17) quanto transitivo (exemplo 18). Assim, estaríamos diante da causatividade lexical de subtipo 1, em que não ocorre mudança lexical ou morfológica idiossincrática (cf. seção 2 e Payne 1997). Ou ainda, se optarmos pela interpretação i), o causador é simplesmente introduzido na primeira posição da sentença como uma espécie de adjunto de causa, e a sentença que traz o efeito permanece com sujeito e verbo intransitivo, igual a uma sentença sem inclusão de causa, como a do exemplo 17. Isso parece trazer um fato novo aos estudos tipológicos sobre causatividade. A interpretação ii) ganha força no exemplo 19 a seguir discutido.

O terceiro enunciado do roteiro 4 —A chuva fez a menina ficar triste—foi assim traduzido para Libras:

“Chuva, a menina entristeceu por causa da chuva.”

Exemplo 19. Roteiro 4, enunciado 3 (Andrade 2015, 91).

O causador CHUVA foi novamente colocado no início da sentença, porém, uma vez que ele é repetido no final, pode-se interpretar aí que ele está topicalizado, algo como: A chuva, a menina entristeceu por causa da chuva. Retomando a análise de Andrade (2015, 91):

Para Quadros (2004), duplicar partes do discurso [em Libras] tem como finalidade duplicar o elemento merecedor de destaque, na sentença, [no caso] o causador. Mas “a menina” continuou como o sujeito de “entristecer” e na posição pré-verbal. Isso é um diferencial em relação ao Português, por exemplo. Pensamos que essa manutenção de “menina” como sujeito seja uma forma de manter a importância discursiva do argumento [+animado +humano].

Assim, entendemos que a causatividade presente no exemplo 19 envolve a seguinte estrutura, que seria apenas um dos modelos possíveis de construção causativa em Libras frente ao que já se discutiu até aqui:

Topicalização do agente causador + Predicado de efeito + Adjunto de causa introduzido pelo sinal POR CAUSA DE + Agente causador.

Esquema 1. Um dos modelos de construção causativa em Libras.

Esse mesmo roteiro 4 foi apresentado a outro colaborador. Em relação aos enunciados A menina entristeceu e A chuva entristeceu a menina, os resultados foram completamente iguais (cf. Andrade 2015, 92). Destacamos a seguir como foi sinalizado por esse segundo colaborador o enunciado A chuva fez a menina ficar triste:

“A menina entristeceu por causa da chuva.”

Exemplo 20. Roteiro 4, enunciado 3 (Andrade 2015, 92).

Muito similar ao exemplo 19, o exemplo 20 também traz a construção POR CAUSA DE + CHUVA, representada por dois sinais logo após apresentar o predicado de efeito, em que se expressa que a menina entristeceu. A diferença para 19 está no fato de que 20 não traz o causador CHUVA informado em posição inicial de sentença. Isso modificaria parcialmente o esquema 1 apresentado acima, trazendo a possibilidade de a topicalização do agente ser opcional:

(Topicalização do agente causador) + Predicado de efeito + Adjunto de causa introduzido pelo sinal POR CAUSA DE + Agente causador.

Esquema 2. Um dos modelos de construção causativa em Libras.

O terceiro colaborador também traduziu A menina entristeceu e A chuva entristeceu a menina da mesma forma que os outros dois (cf. Andrade 2015, 93). Novamente, nos interessa apresentar a maneira como o terceiro enunciado do roteiro 4 foi expresso em Libras:

“A menina entristeceu com a chuva, por causa dela, por culpa da chuva.”

Exemplo 21. Roteiro 4, enunciado 3 (Andrade 2015, 94).

O exemplo 21 apresenta também o predicado de efeito em primeiro plano (a menina entristeceu) como em 20, seguido do causador (CHUVA) e dos sinais de POR CAUSA DE e CULPA, com a repetição do causador no final —CHUVA. O elemento a mais aqui em relação aos exemplos 19 e 20 é o sinal de CULPA e mantemos a posição defendida em Andrade (2015, 94):

Inserir no discurso o sinal POR CAUSA já remete à causatividade, mas inserir no mesmo discurso o sinal CULPA significa potencializar a agentividade do causador. Além dos sinais POR CAUSA e [por]CULPA, o constituinte CHUVA é duplicado, como se disséssemos: A menina entristeceu com a chuva. Por causa da chuva, por culpa da chuva, ela, a chuva.

Esse segundo roteiro nos permitiu identificar o uso sistemático do sinal POR CAUSA DE para expressar o causador de um predicado de efeito. O fato de esse causador ser um agente não prototípico (inanimado) pode ter suscitado uma mudança na ordem típica da relação entre predicado de causa e de efeito, sobretudo por estar presente neste último um participante humano e animado (MENINA), enquanto no primeiro está um agente causador não humano e inanimado (CHUVA). Logo, a ordem efeito-causa presente em 20 e 21 respeitaria a seguinte escala de topicalização:

+ agente -agente

+ tópico -tópico

------------------------------------------------------------------------------------>

1 > 2 > 3 > 1 > 2 > 3 > nomes próprios > humanos > não-humanos animados > inanimados

(concordância > pronomes) ( definidos > indefinidos )

Esquema 3. Escala de topicalização (Payne 1997, 150; tradução e adaptação nossa).

Pelo princípio da empatia discursiva de Kuno (1976) (apud Payne 1997, 151)9, o falante escolhe o tópico com base na hierarquia acima; ou seja, escolhe falar de pessoas definidas que se movem, controlam eventos e têm poder; logo, agentes são escolhidos preferencialmente para ser tópico. No caso específico dos exemplos 20 e 21, o elemento tópico é MENINA, um humano, frente à CHUVA, um elemento inanimado, mesmo sendo MENINA um participante não agente.

Identificamos, novamente, o uso do sinal CULPA como ocorreu no exemplo 12 do roteiro anterior. Esse sinal foi encontrado também em outra etapa da pesquisa, como veremos a seguir.

Em outra fase da pesquisa, decidimos usar uma metodologia mais próxima de uma interação natural e iniciamos um diálogo em Libras sobre uma situação hipotética: um garoto cair do skate e machucar o pé. Um de nossos colaboradores produziu os seguintes enunciados:

“O menino machucou o pé.”

“O skate machucou o pé do menino; a cula é do skate.”

Exemplo 22. Diálogo sobre uma situação hipotética (Andrade 2015, 95).

Na primeira parte do exemplo 22, o enunciado traz o experienciador (MENINO) seguido pelo tema (PÉ). O verbo (MACHUCAR) vem no final da sentença: SOV. Sobre a ordem canônica de constituintes ser SOV ou SVO como em boa parte dos exemplos encontrados, não podemos fazer afirmações conclusivas, não tendo sido esse o foco de nossa pesquisa.No enunciado seguinte ainda dentro do exemplo 22, o causador é introduzido (SKATE) (cf. quadrante 4). Esse constituinte ocupa a primeira posição do enunciado, posição típica de agente-causador. Após o causador, ocorre o sinal para ESSE (quadrante 5) que se refere ao skate, o que nos sugere que o causador está topicalizado como em 22. Em seguida, vem o verbo MACHUCAR outra vez e o alvo dessa ação: PÉ + MENINO. Nesse caso, outra vez é usada a estratégia de aumentar a valência (o número de participantes) sem mudar o verbo (o mesmo ocorreu com o exemplo 18). Nesse exemplo 22, ocorre também a expressão de responsabilidade por meio do sinal de CULPA e a retomada do causador (SKATE) —CULPA SKATE— como nos exemplos 12 (CULPA ELE) e 21 (CULPA CHUVA). Aqui, lançamos a hipótese de que, em Libras, o sinal CULPA informa qual é o causador de um predicado de causa, o qual vem logo após esse sinal, em um processo de duplicação dessa informação, com o propósito de não permitir ambiguidade sobre a causa e mesmo sobre a relação causa-efeito. Esse tipo de estratégia parece ser bastante recorrente em Libras, sendo uma característica relevante dessa língua. Possivelmente, há uma relação de constituência entre o sinal CULPA e o causador, formando um sintagma só, algo ainda a ser averiguado em pesquisas futuras.

5. Considerações finais

Buscamos, neste texto, apresentar os resultados iniciais de nossa pesquisa sobre a causatividade em Libras. A metodologia adotada envolveu a colaboração de oito surdos, entre homens e mulheres, de 30 a 40 anos, com nível superior. Usamos quatro roteiros com imagens de situações e frases que envolviam predicados de efeito e predicados de causa. O primeiro roteiro trazia três imagens. O segundo era composto por um texto e três imagens correlacionadas ao texto. Os dois roteiros seguintes traziam apenas frases com efeito apenas e com causa e efeito juntos. Conseguimos gerar os dados, mas identificamos que os roteiros com imagens causavam algumas dúvidas de compreensão. Registramos esse fato para melhor guiar futuros trabalhos na área.

Como resultados, descobrimos que a causatividade em Libras é, pelo menos, de três tipos: lexical, sintática e indicada por um adjunto de causa. A causatividade lexical se divide em dois subtipos: com mudança lexical ou sem mudança alguma no verbo. A mudança lexical de verbo não causativo para causativo ficou evidente nos exemplos envolvendo o verbo MORRER e MATAR (contraste entre os pares de exemplos 10 e 11, e 13 e 14). Por outro lado, registramos também causatividade lexical sem alteração no verbo envolvido nos pares de exemplos 17 e 18, em que o verbo ENTRISTECER não foi alterado quando foi introduzido em cena um agente.

A causatividade sintática (perifrástica ou analítica) foi a estratégia mais frequente em nossos dados, estando presente nos exemplos 2, 3, 5, 6, 8, 9, 12, 15 e 16. Alguns fatos em torno dela merecem destaque.

Os exemplos 2 e 5 trazem a inclusão do sinal MALDADE para expressar que a ação foi deliberadamente cometida pelo agente. Nos contextos dados, ela envolvia ação menos direta e mais material linguístico foi usado, o que a aproxima do princípio da iconicidade na literatura sobre causatividade, em que, quanto mais indireta é uma ação, mais material linguístico será usado para expressá-la. Isso é reforçado nos exemplos 8 e 9 em que o agente indireto aparece duas vezes. Em 9, também se agrega o sinal FICAR DE OLHO.

Em contraste, os exemplos 11 e 14 são mais curtos e expressam causação direta. Já os exemplos 12, 15 e 16 trazem uma causação indireta, e os colaboradores optaram por agregar à perífrase causativa os seguintes sinais: CULPA (cf. 12), CRUELDADE (cf. 15) e AGIR COM PERVERSIDADE (cf. 16). Identificamos isso também nos exemplos 2 e 5 com o sinal MALDADE, como dissemos. Logo, isso representa um padrão típico da causatividade em Libras, em que o agente intencional é caracterizado por um sinal desse tipo. E também quanto maior for a volição, a culpa e a responsabilidade, maior será o enunciado.

Outro padrão de causatividade sintática identificado por nós apareceu no exemplo 19, em que o causador é colocado tanto no início do enunciado quanto repetido no final, nesse caso sendo antecedido pelo sinal POR CAUSA DE. Isso nos permitiu propor o esquema 1, repetido abaixo:

Topicalização do agente causador + Predicado de efeito + Adjunto de causa introduzido pelo sinal POR CAUSA DE + Agente causador.

Esquema 1. Um dos modelos de construção causativa em Libras.

Esse mesmo padrão foi identificado em outros colaboradores, como vimos no exemplo 22. Nele, o sinal POR CAUSA DE foi substituído pelo sinal CULPA. A colocação do causador no início, o qual depois é repetido no final dos enunciados, como em 19 e 22, pode ser indício de topicalização à esquerda. Sua repetição no final seria um processo de duplicação dessa informação, com o propósito de diminuir ao máximo a ambiguidade sobre a causa e mesmo sobre a relação causa-efeito.

O sinal POR CAUSA DE ocorre também em 20, mas só no final do enunciado, o que nos levou a propor um esquema 2, repetido abaixo, que é uma variante do esquema 1:

(Topicalização do agente causador) + Predicado de efeito + Adjunto de causa introduzido pelo sinal POR CAUSA DE + Agente causador.

Esquema 2. Um dos modelos de construção causativa em Libras.

Esse mesmo padrão de causatividade ocorreu no exemplo 21, em que se usou POR CAUSA DE + CULPA, com o claro objetivo de identificar o elemento causador, responsável pelo que se estava afirmando. O uso de CULPA já tinha sido identificado no enunciado causativo 12 (CULPA ELE), 21 (CULPA CHUVA) e 22 (CULPA SKATE), traço relevante da causatividade em Libras.

O fato de o predicado de efeito ocorrer antes do predicado de causa em 20 e 21 também pode ser considerado um traço interessante da causatividade em Libras. Essa inversão entre causa e efeito pode ter sido motivado pelo fato de o agente causador ser não humano e inanimado (no caso, a CHUVA), enquanto o paciente no predicado de efeito é humano e animado (no caso, MENINA), sobressaindo-se assim em relação ao agente e, por isso, ocupando a primeira posição do enunciado. Como dissemos na seção 4, isso atenderia ao princípio da empatia discursiva de Kuno (1976).

Embora o foco não tenha sido a causatividade, o estudo de Lima (2019, 112) sobre causalidade em Libras também identificou o uso do conectivo POR CAUSA DE para expressar o fenômeno da causa: “Identificamos em nosso corpus a presença de dois conectivos manuais, PORQUE e POR-CAUSA que introduzem as orações causais nessa língua de sinais”.

Um resultado interessante dessa pesquisa de Lima (2019) foi a identificação de marcas não manuais associadas ao uso do POR CAUSA DE:

Os exemplos apresentados nesta subseção atestam que, em Libras, as relações de causalidade podem ser introduzidas com conectivos manuais com valor causal como o PORQUE e o POR-CAUSA, os quais são acompanhados pelas marcas não-manuais de sobrancelhas levantadas e levantamento de queixo (Lima 2019, 121, itálico nosso).

Essas marcas não manuais, portanto, merecem ser investigadas em trabalhos futuros sobre causatividade.

Finalmente, a discussão em torno do exemplo 15 e da interpretação possível para os enunciados que o compõem (o menino matou o cachorro e (o cachorro) morreu), em que o controlador do verbo MORRER é o objeto direto do verbo MATAR (no caso, CACHORRO) sugere um alinhamento sintático ergativo-absolutivo para a sintaxe da Libras. Esse e os demais fatos aqui introduzidos sobre a causatividade em Libras merecem mais estudos.

Bibliografia

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1 Este texto traz uma reanálise dos principais resultados da pesquisa desenvolvida no âmbito do mestrado em Linguística na Universidade de Brasília (cf. Andrade 2015).

2 Optamos por manter os exemplos na língua original (o Inglês) por não termos encontrado algo similar em Português.

3 In a typological study it is customary to classify causative forms into (a) the lexical (synthetic), (b) the morphological and (c) the syntactic (analytic or periphrastic type). We find a formal typology of this kind to be limited in a number of respects. For one thing, as noted by Givón (1980) and Comrie (1981, 1985), these three types form a continuum, and each type, furthermore, consists of a continuum of its own, rendering the entire formal dimension into a single continuum. […] We present a functional-typological analysis of causative constructions in the form of a semantic map that shows how formally distinct types of causative are distributed along the directness dimension of the causative semantics. The map also represents the pattern of grammaticalization, thereby providing a framework in which synchronic distribution and diachronic developments of various causative constructions can be directly related.

4 A respeito da iconicidade, conferir os trabalhos de Haiman (1983) e outros.

5 O modelo de TCLE usado se encontra no apêndice B de Andrade (2015, 108).

6 Agradecemos ao estudante surdo Rafael Lucas pela produção das imagens do roteiro ilustrado.

7 Não se pode afirmar categoricamente que se trata de i) uma qualidade do menino (um adjetivo) ou ii) uma qualidade da ação verbal (um advérbio). Essa ambiguidade entre adjetivo e advérbio é muito comum nas línguas e consideramos um tema muito interessante a ser pesquisado em Libras.

8 Esses questionamentos evidenciam uma certa limitação de uma metodologia baseada em elicitação, como já havíamos comentado.

9 Mesmo não tendo feito uma citação direta, optamos por informar o número da página para que o/a leitor/a encontre a informação com maior facilidade.